Sempre que posso, faço um giro (qual autómato) pelas ruas da cidade . Mas hoje, creiam que o giro não foi ditado por nenhuma força estranha. Foi a pura curiosidade de ver qual o comportamento dos, e das, que só se lembram que têm namorado ou namorada no dia de S. Valentim. E, reparei que, esses e essas, que levam quase todo o ano esquecendo que o amor é, todos os dias e todos os momentos, só porque o markting das grandes empresas de distribuição lhes lembrou que era dia de S.Valentim , desataram a correr às lojas para comprar uma prendinha com que demonstrariam aos seus amados, amadas " o quanto os amam.
Pois foi precisamente neste deambular ao acaso pelas ruas, que deparei com um amigo, "amigo de verdade" daqueles que guardamos do lado esquerdo do peito, com o nariz encostado à montra de uma ourivesaria; Não necessitei de lhe perguntar o que o encantava na montra do ourives, pois ele mal me viu abriu-se num sorriso enorme, daqueles que só ele tem.E depois, já mais sério, disse: talvês te pareça estranho, mas, há ´uma coisa que me roi por dentro . E desatou a desfiar os contornos de um amor secreto que havia tido, sem contudo revelar de quem se tratava.
Lamentava que, muito embora nem ele nem o seu antigo amor fizessem das coisas materiais o combustivel que fazia explodir as suas relações , ele jamais a tivese levado a jantar a um lugar chique, lhe tivesse comprado roupa bonita, lhe tivesse dado algo de real valor. Claro que por mais de uma vez ele tentara fazer tudo isso, mas, por circunstâncias várias, dentre as quais o secretismo do relacionamento, não tnha sido possivel.
E hoje, dia de S.Valentim , ali estava ele defronte da ourivesaria a imaginar que, provavelmente nenhuma joia teria valor suficiente para simbolizar o amor que, mesmo magoando por ausência ou indiferença, não deixa de ser amor.
Pensando em voz alta, disse: vou comprar um botão de rosa e oferecê-lo à primeira mulher que encontrar! Assim, continuarei a alimentar esta chama que embora esmorecida não se apaga.
Confesso que desconhecia esta paixão platónica deste meu amigo, mas, só pelo brilho de felicidade que vi nos seus olhos, direi que, vale a pena amar.
Por isso, que São Valentim seja todos os dias.