Com a devida vénia, vou hoje citar uma "máxima" que marcou a minha maneira de encarar as contrariedades.
O facto que me proponho transmitir-vos ocorreu na vivência dos meus 28 ou 29 anos; por essa altura iniciava eu uma vida de comerciante nas Fazendas de Almeirim, terra de onde sou natural e onde decorreu toda a minha meninice e juventude. Como já anteriormente referi, quando assentei arraiais (entenda-se vida de casado) foi aqui que me fixei de armas e bagagens.
Amo esta terra e as gentes de que faço parte. Mas, vamos ao tal facto de que vos falei; como dizia, iniciei uma vida de comerciante ainda novo e dado que a actividade se prende também com uma forte componente de prestação de serviços, frequentemente tinha de me deslocar à loja de ferragens cá do burgo, propriedade do Snr Xico da Drogaria. Por este personagem, meu amigo e amigo de toda a gente tenho profunda admiração! No trato pessoal é inexcedivel e no comportamento comercial um exemplo.
Pois bem, numa dessas idas (quase sempre com pressa) à loja do Xico da Drogaria, aí por volta das seis da tarde, deparei com o balcão recheado de clientes e o bom do amigo Xico a atender um cliente que pretendia comprar uma tesoura de poda. Até aqui tudo normal, só que, o cliente após analizar uma série de tesouras na maior das calmas lá foi encontrando pequenos pormenores que não eram do seu agrado; volvia o Xico com nova dose de tesouras e pacientemente aguardava a decisão de escolha do cliente, mas este voltava a encontrar pormenores que não preenchiam a sua satisfação. Entretanto os restantes clientes já estavam furiosos com a demora da escolha pois os defeitos apontados às tesouras eram incriveis ninharias que não justificavam o tempo perdido. Claro que o Xico ainda estava mais furioso, e após nova análise de mais dez tesouras por parte do cliente, e na eminência de uma recusa de compra da tesoura, o bom do Xico armou um amplo sorriso e teve este desabafo:
francamente oh Josué; e se fosse para comprares um avião?
Claro que a maioria dos presentes, se estivessem no lugar do Xico teriam mandado o cliente dar uma volta acompanhado da sua indecisão, mas o Xico, comerciante sagaz e velha raposa, "pese embora o facto de na altura ainda não se falar em markting," já sabia que com vinagre não se apanham moscas.
Conclusão ; após esta tirada do Xico, o cliente comprou rápidamente a tesoura.
Aprendi imenso naquele momento de espera, e ainda hoje, perante a indecisão injustificada de um cliente, aplico a máxima do Xico da Drogaria ; E se fosse para comprar um avião?
Dada a minha actual condição de burro carregado de livros, a quem, por analogia, também se chama estudante de Direito, faço diariamente a viagem entre Santarém , Lisboa, Santarém, em comboio regional.
Sucede porém, que na ultima viagem que efectuei tive por companhia um grupo de Romenos cujo destino era Santa Apolónia; do grupo faziam parte famílias completas, e fácil foi perceber, que o motivo da deslocação era a prática profissional de mendicidade . Não importa agora a descrição da falta de civismo de que o referido grupo deu provas durante a viagem, quer pela colocação dos pés nos bancos onde se devem sentar os passageiros, quer pela tentativa de extorção de esmola aos referidos passageiros.
Tudo isto, sabemos ser normal no nosso querido País, e não só.
Foi precisamente o comportamento deste grupo, que me avivou a memória para um trabalho curricular que efectuei para a cadeira de Direito Comunitário. O trabalho foi feito com as naturais lacunas resultantes das limitações académicas de um estudante, e, não obstante ter sido classificado com nota positiva pelos Mestres Professores, a mim, ficou-me um sabor amargo por no referido trabalho não poder exprimir o que na realidade pensava da matéria, mas sim, o que era académicamente correcto.
Vejamos então, genericamente, de que constava o trabalho; Teria que ser feita uma análise das várias formas de integração europeia por parte dos Países aderentes, estabelecendo as diferenças entre elas, comparando vantagens e desvantagens.
Para não massar muito, e ir directamente ao assunto, um dos dos pontos com o qual mais fiquei em desacordo, prendia-se com a forma como levianamente se permitia e até incentivava, a livre circulação de pessoas no espaço da União Europeia.
Pois bem, "na lógica dos três pilares" (seria massudo explicar aqui o que é a estrutura peculiar dos três pilares em que se baseia a Europeia), o pilar PESC ( --politica externa e segurança comum) era tão sòmente uma estrutura, cuja operanacionalidade pura e simplesmente não existia por falta de meios técnicos que permitissem a interactividade entre os meios de defesa dos vários Países membros. Mas, o mais grave de tudo, na minha modesta opinião, prendia-se com as políticas atinentes ao 3º pilar, ou seja: deste pilar fazem parte; justiça e assuntos internos; cooperação judicial em matéria cívil e penal, cooperação policial, combate ao racismo e à xenofobia, combate ao tráfico de droga e armas, combate ao crime organizado, combate ao terrorismo, combate ao tráfico de seres humanos, para além de outras.
Estão portanto no terceiro pilar as matérias que tutelam e controlam o comportamento dos cidadãos europeus. Só que, em minha modesta opinião (e creiam que não ´e só minha) a livre circulação de pessoas deveria ser precedida de um processo de formação aos cidadãos dos novos Países aderentes, no sentido de lhes explicar, que a Europa não é um paraíso para parasitas, criminosos e traficantes, mas sim um espaço de solidariedade, de liberdade, de igualdade, de trabalho e de respeito pelos direitos humanos.
Se este período de formação fosse observado, e o controlo de fronteiras fosse minimamente exercido, talvés não tivessemos que suportar esses exercitos de mendigos profissionais, de criminosos, de traficantes e de proxenetas.
Pese embora as boas intenções dos políticos, quem suporta as consequências das leis que aprovam são os que no terreno têm de conviver com essas realidaes.
Nota 1º:Até há pouco tempo atrás era possivel a um criminoso foragido à justiça de um País da União Europeia, deslocar-se livremente no espaço Europeu, e se voltasse a cometer crime no espaço Europeu, (desde que não houvesse mandato de captura), não era possivel saber se era ou não criminoso.
Nota 2º Felizmente, e graças a um poderoso sistema informático desenvolvido por uma empresa Portuguesa, é agora possivel às autoridades de qualquer País da União Europeia, aceder em tempo real, (imediato), à base de dados de todos os Países da União.
Nota 3º Sendo um europeísta convicto, vejo com alguma preocupação a tentativa de adesão de Países cuja cultura nada tem a ver com a cultura Europeia. Ao invés, são países de culturas dispares e nalguns casos fundamentalistas.
Nota 4º- As matérias constantes do segundo pilar estão actualmente a ser executadas com total operacionalidade.
Nota 5º- O conteúdo deste post reflete apenas genericamente a opinião do autor, baseada na vivência diária com a realidade e não são fruto de qualquer atitude xenófoba.
Porque hoje é Domingo, estou com uma preguiça que sem esforço se sobrepõe à pouca vontade de trabalhar .Não obstante tenha que realizar uma tarefa inadiavel cuja data limite é segunda feira de manhã, por ora vou dar-me ao prazer do "dolce fare niente ", que é como quem diz , nada fazer.
Acabei agora de ler um livro que resumidamente relata a dura luta travada pelo Dr . Martin Luther King e os seus seguidores na conquista dos direitos dos negros Americanos, ou seja: dos Afro Americanos. Do livro, por estar escrito em Inglês língua que domino com imensas lacunas) não retirei todos os pormenores, mas o essencial ficou retido. Assim, na distância temporal dos acontecimentos, (ele foi alvejado em 3/04/1965 e faleceu no dia seguinte 4/4/1965), fica-nos mais livre e isento o processo de formação de opinião acerca do ocorrido.
Sem dúvida que o Dr Martin Luther King foi um líder na condução do processo que culminou com a publicação de Leis Nacionais que aboliram o segregacionismo e deram aos Afro-Americanos direitos civis (direito de voto) abolindo toda e qualquer discriminação relacionada com a cor da pele. As Leis segregacionistas deveriam envergonhar qualquer cidadão que tivesse um pouco, -só que fosse -, de humanidade.
É por isso, que nós Portugueses nos devemos orgulhar do nosso passado Ultramarino e Africano, pese embora alguns excessos cometidos por indivíduos de baixa índole moral, ,jamais tais excessos foram consentidos pelos verdadeiros cidadãos Portugueses , e o conteúdo das Leis sempre teve carácter geral e abstracto.
Contudo, fica-me sempre a sensação que na nossa sociedade actual se pratica um segregacionismo, que embora subtil, tem os mesmos efeitos do segregacionismo praticado pelos Americanos brancos do Sul sobre os negros. Há, claramente, um segregacionismo económico, social e político que, qual caldeiro sob pressão poderá rebentar a qualquer momento. Perdoem-me, mas darei um exemplo tosco do segregacionismo actual, ou seja: é como colocar um apetitoso alimento à disposição de um faminto mas numa posição que ele jamais conseguirá alcançá-lo, e ao invés, colocar à disposição de outro, que nem sequer fome tem, (mas apenas gula) os meios fáceis de alcançar o referido alimento. Isto é um facto gerador de revolta, que por enquanto ainda é subterrânea, mas que, se não for travado o segregacionismo económico e social, pode eclodir a qualquer momento.
Para tal, basta o aparecimento de um Luther King dos tempos modernos.
De quando em vez dou uma olhada nos blogs de Almeirim. Dos vários que fazem parte da blogosfera cá da zona, uns haverá, que despertam mais o interesse que outros, como é natural. Mas, numa coisa estão quase todos em sintonia. Salvo as excepções, quase todos escolhem como alvo de ataque a Câmara de Almeirim, o seu Presidente e quando é caso disso, os satélites que gravitam na sua órbita, ou seja: aqueles que de uma forma ou de outra lá vão procurando sobreviver na política, "engolindo sapos" metendo a dignidade debaixo do tapete e aguentando os ataques que lhes surgem de todos os lados, mas sem surtirem o efeito de uma grande bomba, com danos colaterais e tudo.
Não custa imaginar a expressão de gozo do Snr Presidente quando lê ou é informado de algumas das críticas constantes de alguns desses blogs! Também não custa imaginar a sua expressão de raiva por não poder responder à letra (à ribatejano) a outras dessas críticas, e não será dificil antever os bocejos de saturação com que tem de aguentar as investidas mais inflamadas de uma oposição, que nunca passará disso mesmo.
Pois bem! Acabem-se as críticas destrutivas, vamos todos dar as mãos e ajudar o Snr Presidente da Câmara, para que possa Governar melhor a autarquia.
Como diz um velho aforismo "é mais fácil obedecer que mandar".
Nesta conformidade, pensemos como deve ser difícil agradar a Gregos ,Troianos e Quejandos, quando a maioria, não se expressa de forma concreta em relação ao que gostava de ver feito, ou pelo menos tentado.
Por mim, entendo que o melhor é relembrar o Snr Presidente de algumas coisas que ocorreram e não deviam, e outras que deveriam e não ocorreram.
Assim, comecemos pelo que deveria ter ocorrido:
1.º Desde o 25 de Abril, não foi criada uma zona industrial no Concelho, deveria portanto "em modesta opinião" ter sido uma prioridade da autarquia.
2º. Deste modo, não houve a instalação de uma única indústria (digna desse nome) que criasse postos de trabalho permanente, evitando assim a debandada de mão de obra qualificada, que felizmente existe. Também não se cativou a instalação de agro- indústrias que transformassem os produtos oriundos da lavoura.
3.ºDurante os quase trinta anos de governação não houve a eficácia de fazer prevalecer o nome "ou a marca" Almeirim, para que a excelência de alguns dos produtos aqui produzidos fossem referência no mercado Nacional e até Internacional.
Nota: a este respeito, os restaurantes da zona gastronómica fizeram mais do que a autarquia. Quanto à recente iniciativa dos enxidos, esperemos que seja um sucesso.
4.ºFinalmente , e para não tornar extensivo o rol, não teria ficado mal à Autarquia acionar "de modo subtil ou expresso", as campaínhas de alarme dos sócios das adegas cooperativas do Concelho, para o amadorismo das suas gestões, evitando talvês os embaraços financeiros, porque, em maior ou menor grau, estão passando. Tal gesto jamais seria tomado como ingerência, mas sim, como sinal de preocupação pela principal fonte de rendimentos do Concelho.
Seguidamente permito-me lembrar o que não deveria de ter ocorrido:
O esvaziamento económico do Concelho de Almeirim é uma realidade; quase uma indignidade.
1º Desde o 25 de Abril é mantida uma feira mensal no primeiro domingo de cada mês. O início do mês é, como se sabe, o momento em que as famílias dispõem de algum dinheiro tornando-se por isso mais fácil a compra.
~Dado que a maioria dos comerciantes (feirantes ) que vendem na Feira não são do Concelho, as importâncias pagas pelo terrado que ocupam, não contrapõe o desgaste económico que representa o dinheiro saído do Concelho.
Por isso, de acordo com "modesta opinião" a feira deveria ser mudada para data coincidente
com o terceiro domingo de cada mês.
Nota:Já foram contabilizados os custos de limpeza do terreno, após cada feira?
Para completar o esvaziamento económico do Concelho, a Autarquia permitiu ( ou pelo menos não dificultou) a instalação de 2 grandes superfícies, que não tendo sede social no Concelho não pagam impostos em Almeirim. Junte-se a tudo isto, o facto de não venderem produtos produzidos na zona,
2.º-Há anos que a autarquia esbanja dinheiro nas festas da cidade, quando prioritariamente deveria salvaguardar a saude dos Munícipes, ou seja: permitiu que (por falta de verbas,segundo se afirmou) se mantivessem num armazém às portas da cidade, armazenados durante 20 anos, produtos de forte acção cancerigena, que só foram retirados por troca da licença de instalação de mais uma superfície comercial, cujo funcionamento servirá também para empobrecer mais o Concelho.
Nota:A todo o comércio (independentemente da dimensão) que não tivesse sede social em Almeirim, deveriam ser criadas dificuldades de instalação, dando-se ao invés, facilidades aos que aqui estabelecessem sede social .
3º. Na freguesia que representa um terço do eleitorado permitiu-se que a estação dos correios fosse encerrada!
Na sede da mesma freguesia, desde o 25 de Abril de 1974,ainda não foi criado um espaço público de lazer, ou seja: nem um jardim, nem um local de convívio ao ar livre. (o que existe, consta que foi criado por iniciativa da paróquia).
Falo portanto das Fazendas, frguesia que tem direito a algo mais.
Quanto ás Fazendas ficamos por aqui!
Sabemos que não se pode pensar em tudo, por isso, aqui ficam alguns assuntos que poderão servir de memorando ao Snr Presidente da Câmara, pessoa por quem tenho subida consideração e admiração pela obra entretanto feita.
Sempre que posso, faço um giro (qual autómato) pelas ruas da cidade . Mas hoje, creiam que o giro não foi ditado por nenhuma força estranha. Foi a pura curiosidade de ver qual o comportamento dos, e das, que só se lembram que têm namorado ou namorada no dia de S. Valentim. E, reparei que, esses e essas, que levam quase todo o ano esquecendo que o amor é, todos os dias e todos os momentos, só porque o markting das grandes empresas de distribuição lhes lembrou que era dia de S.Valentim , desataram a correr às lojas para comprar uma prendinha com que demonstrariam aos seus amados, amadas " o quanto os amam.
Pois foi precisamente neste deambular ao acaso pelas ruas, que deparei com um amigo, "amigo de verdade" daqueles que guardamos do lado esquerdo do peito, com o nariz encostado à montra de uma ourivesaria; Não necessitei de lhe perguntar o que o encantava na montra do ourives, pois ele mal me viu abriu-se num sorriso enorme, daqueles que só ele tem.E depois, já mais sério, disse: talvês te pareça estranho, mas, há ´uma coisa que me roi por dentro . E desatou a desfiar os contornos de um amor secreto que havia tido, sem contudo revelar de quem se tratava.
Lamentava que, muito embora nem ele nem o seu antigo amor fizessem das coisas materiais o combustivel que fazia explodir as suas relações , ele jamais a tivese levado a jantar a um lugar chique, lhe tivesse comprado roupa bonita, lhe tivesse dado algo de real valor. Claro que por mais de uma vez ele tentara fazer tudo isso, mas, por circunstâncias várias, dentre as quais o secretismo do relacionamento, não tnha sido possivel.
E hoje, dia de S.Valentim , ali estava ele defronte da ourivesaria a imaginar que, provavelmente nenhuma joia teria valor suficiente para simbolizar o amor que, mesmo magoando por ausência ou indiferença, não deixa de ser amor.
Pensando em voz alta, disse: vou comprar um botão de rosa e oferecê-lo à primeira mulher que encontrar! Assim, continuarei a alimentar esta chama que embora esmorecida não se apaga.
Confesso que desconhecia esta paixão platónica deste meu amigo, mas, só pelo brilho de felicidade que vi nos seus olhos, direi que, vale a pena amar.
Por isso, que São Valentim seja todos os dias.
Hoje, tal como muitas vezes dei por mim a imaginar o nosso cérebro em termos de memória.
Mesmo tendo presente a realidade da imagem da nossa massa cinzenta, ainda consigo viajar ao mundo da fantasia e idealisar o cérebro da mesma maneira como o fazia em menino.
Para mim, nesses tempos de felicidade plena, o cérebro representava um enorme armazém composto por imensos compartimentos onde eram guardads as recordações. De um lado as boas, do outro as más, mas todas muito bem organizadas, para que em qualquer momento fosse fácil aceder-lhes. Esse armazém super arrumado era a memória. Verifico agora, com o passar dos anos e o avanço da ciência, que as memórias electrónicas funcionam exactamente do modo que eu "e provavelmente os meninos da minha geração" imaginava a nossa.
Bom, mas a memória de que hoje me socorro, continua a ser aquela da minha meninice, e, ao puxar uma gaveta dessa memória, saiu a história que vos vou contar. Haverá alguns, que ainda terão presente a narrativa, mas é especialmente para os mais novos que tiverem a paciência de ler até ao fim, que ela inteirinha vai.
Nos idos anos de 50, (milénio passado) as Fazendas eram (como já algumas vezes disse) um lugarejo disperso formado pelos seus agregados populacionais a que chamavamos cantos; era pois normal dizer-se que fulano era do canto da serra, ou do canto negro, ou do canto da baixa etc. Pese embora a rivalidade que sempre existiu entre os cantos, rivalidade deverá ser encarada no bom sentido, dado que, a dita era normalmente de ordem económica e de conquista de estatuto social, ou seja: quanto mais rico se fosse, mais importância social se auto atribuía. À parte esta rivalidade, as pessoas entendiam-se perfeitamente e funcionavam como se de um clan se tratasse. As estradas eram quase inexistentes, e as que havia eram de terra batida, sendo um mar de lama no Inverno, e uma nuvém de pó no Verão. Havia ainda a tremenda rivalidade desportiva,ou melhor, rivalidade entre Sportinguistas e Benfiquistas. Note-se, que muito embora os clubes de Lisboa estivessem na origem dos nomes, a rivalidade era entre Sportinguistas das Fazendas (quase todos moradores no canto da Baixa) e Benfiquistas das Fazendas (quase todos moradores nos outros cantos). A rivalidade era de tal ordem que havia dois campos de futebol e duas sedes associativas. Havia pois, o campo e sede do Sporting e o campo e sede do Benfica. Estas rivalidades eram instigadas e mantidas em permanente conflito por dois caudilhos, cada um exercendo influência no seu canto. Se a gaveta onde estava guardada esta recordação não a deteriorou, os caudilhos que na época mantinham acesa a rivalidade, eram pelo canto do Sporting o Snr Augusto Brito e pelo Benfica o Snr José Ferreira.. Era, apesar de tudo, uma rivalidade não conflituosa, salvo quando havia investidas dos rapazes de um canto aos bailes dos cantos rivais. Então sim, raro era o baile que não terminasse com cenas de pugilato com mulherío metido pelo meio.
Mas, um acontecimento havia, que fazia esquecer todas as rivalidades entre os bairros e aglutinava toda a população em torno desse acontecimento; era a Festa das Fazendas! Desde a preparação da festa até à procissão do Padroeiro S.José, eram esquecidas todas as quesílias e havia como que, uma aura de felicidade a que ninguém ficava indiferente. Na noite do fogo voltava a haver rivalidade, mas desta vez entre as mulheres que se aprimoravam na preparação das fogaças (só para os mais novos: fogaça era um cesto redondo composto por iguarias, tais como: galinha corada no forno com arroz, uma ou duas garrafas de vinho, arroz doce, bolos secos e pão de ló, tudo muito bem enfeitado com flores de papel) que à cabeça das fogaceiras desfilavam no palco e eram arrematadas em leilão pela assistência. Era considerada vencedora, a fogaça que rendesse mais dinheiro, havendo também um prémio para a fogaceira mais bonita ou mais bem arranjada.
Como tinha dito no início do escrito, as estradas eram a realidade descrita, sendo excepção a estrada principal que começava no início das Fazendas, e acabava no Queiroz da madeira. Esta estrada era de macadame (espécie de saibro com pedra moída) não lhe faltando os respectivos buracos e os altos e baixos provocados pelas rodas de ferro das carroças. A festa das Fazendas, decorria exactamente no largo da Igreja (hoje a igreja velha) e na estrada frontal ao largo da Igreja, sendo a estrada o local o bailarico, o que, devido à irregularidade do piso permitia aos que não sabiam dançar fazê-lo como os que o sabiam, mas sempre no meio de uma nuvem de pó proveniente da estrada. Resta ainda acrescentar, que a luz elétrica que iluminava o recinto das festas era proveniente de um gerador que por algumas vezes se recusava a funcionar deixando o recinto na escuridão, facto que era aproveitado pela rapaziada deitar a mão aos marmelos da moçoila prometida sem que o olhar da mãe se desse conta. De qualquer modo, a iluminação centrava-se no palco onde decorria a maior parte dos eventos.
Ora, foi durante a noite do sábado do fogo, (início das festas e queima de fogo de artificio) que se desenrolou a cena que a seguir descreverei: A abertura do arraial era no sábado à noite, e , invariavelmente abrilhantado pela Banda Marcial de Almeirim. Antes do início do baile, "até de madtrugada", a Banda Marcial dava um concerto que servia para animar a subida ao palco das fogaceiras e respectivo leilão para angariação de fundos para a paróquia e comissão de festas.
Pois bem! Estavam as fogaceiras alinhadas para subir ao palco, e qundo uma passava junto da Banda, um músico de enorme estatura (que tocava um instrmento quase tão grande como ele e que terminava num enorme funil por cima da sua cabeça), na maior das calmas, sacou a galinha da fogaceira e enfiou a dita no funil do instrumento continuando a tocar impávido e sereno. Tal ocorrência, só foi observada por um músico também já veterano e colega de comesainas do músico gigante, e por um par de olhos de menino que sentado na borda do palco tudo observava, especialmente os gestos que fazia um homem com um pauzinho na mão e a quem todos os músicos obedeciam.
A bronca rebentou quando a fogaceira subiu ao palco, e o leiloeiro fez chacota da fogaça, que nem galinha levava.
Azar dos azares, a fogaça pertencia à mulher de um dirigente do Benfica das Fazendas, que não teve dúvidas em afirmar que tinham sido os do Sporting que tinham retirado a galinhqa da
fogaça como represália por não terem sido colocadas duas varolas da festa no cruzamento do Augusto Brito (portanto território do Sporting). Reagiram os do Sporting e só não se não chegou a vias de facto porque entretanto se fez ouvir através de um microfone roufenho, a voz autorizada e autoritária do Prof Armindo Gomes (pai do actual Presidente da Câmara de Almeirim), apelando à calma, e referindo que, se não houvesse quem comprasse a fogaça ele próprio a compraria, com ou sem galinha. Serenados os ânimos, afogaça lá foi leiloada e foi arrematada pelo preço mais elevado. Sabem por quem? Precisamente pelo dono da fogaça que assim pensou ter dado uma bofetada sem mão nos do Sporting.
Terminado o concerto, a Banda dispersou e o músico gigante mais o seu amigo veterano lá se dirigiram para a taberna do Zé Caldeira, e, na companhia de mais uns amigos deram ao galinaceo o destino devido.
Consta que estava tão deliciosamente preparada que nem os ossos escaparam.
Nota final.
Mais tarde, com o menino já adulto, e em amena cavaqueira com o músico gigante, este perguntou-lhe? Então e a galinha da festa das Fazendas? Resposta do músico: então tú também viste? Sabes uma coisa? A galinha foi comida na taberna do Zé Caldeira, e convidámos o dono da fogaça para comer connosco, que comendo, não se cansava de dizer:
mas porque é que a minha mulher não faz a galinha no forno como esta?
Fartámo-nos de rir, e disse ele; a alegria do povo era contagiante, e sempre tinha um enorme prazer em tocar na festa das Fazendas. Nisso estamos de acordo.